Estamos na era da informação.
Muita, disparada como raios em todas as direções. Nunca foi tão fácil se ter
acesso a tudo e a todos. Porém, confunde-se muito a informação com a
comunicação, no sentido literal da palavra. Nem tudo o que se vê é absorvido, muitas
vezes em função da grande demanda de informação. E, nesse contexto de
superficialidade, um caso curioso a ser analisado é a forma com que os
portadores do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) atua
nele.
O TDAH é uma disfunção neurológica
no córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável pela concentração,
memorização e organização. Quando um portador de TDAH tenta se concentrar, a
atividade do córtex pré-frontal diminui ao invés de aumentar, o que os tornam
pessoas distraídas, desatentas, hiperativas e com dificuldades em controlar
impulsos. É uma patologia reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e
é considerado o transtorno mais comum em crianças e adolescentes, ocorrendo em
3% a 5% das crianças e é mais recorrente em mulheres. Em mais da metade dos
casos o transtorno persiste na vida adulta, ainda que com sintomas amenos.
O portador de TDAH não funciona
sob pressão. O trabalho, ao invés de ser otimizado, perde a eficiência - mesmo
que haja o esforço consciente de melhoria. Tal resultado gera, por parte de
quem estimula o portador de TDAH, a suposição de que o desempenho está piorando
e, consequentemente, a suspeita de má conduta proposital, o que gera mais
pressão. Quem tem TDAH tem dificuldades em manter a atenção durante longos
períodos. Tendem à dispersão e se desligam com frequência daquilo que estavam
fazendo, imergindo-se em pensamentos completamente aleatórios e diferentes do
contexto. Em geral, o portador de TDAH é uma pessoa que pauta suas atitudes
pela impulsividade e instantaneidade inconscientes, cansam-se rapidamente de
situações repetitivas e, por isso, nem sempre concluem aquilo que começam.
Diante de tantas características
negativas, fica difícil imaginar que há formas de se comunicar com este
público. No entanto, estudos mostram que os portadores de TDAH conseguem se
concentrar em coisas que os estimulem de forma instantânea: beleza estética,
novidades, temas interessantes e que os instiguem. São estímulos intrínsecos,
suficientes para que o córtex pré-frontal seja ativado e tais pessoas mantenham
o foco. O maior estímulo que um portador de TDAH pode receber é não ser
estimulado de forma negativa: em toda situação de conflito, quanto mais
tumultuada for a atitude, menos intensa deve ser a reação do outro.
Tais características, bem como as
formas de lidar com o portador de TDAH, são bem similares às da chamada
“geração Y”. Público nascido entre 1978 e 1990, esta geração tem como
prioridade a busca pelo sentido da vida de forma rápida, ao mesmo tempo em que se
preocupa com outras questões tão importantes quanto. A geração Y,
diferentemente das gerações anteriores, nasceu inserida num contexto altamente
tecnológico. Ela não precisou aprender a dominar a tecnologia, mas já nasceu
habituada a conviver em um mundo onde as distâncias são relativas, as ambições
são mutáveis e tudo, absolutamente tudo, deve priorizar a autorrealização.
Assim, a geração Y tende a ser
individualista de forma positiva. Questionam valores éticos, engajam-se em
questões socioambientais e, quando contrariados, não se calam. Isso os leva ao
fácil desinteresse pela rotina e a busca constante do novo. Profissionalmente
falando, a geração Y também se mantém mutável e trata colegas e superiores numa
relação horizontal. Buscam o aprendizado como uma via de mão dupla, o que nem
sempre é possível em determinados contextos. Enfim, guardadas as devidas
proporções, a geração Y possui traços comportamentais similares aos dos
portadores de TDAH.
Entende-se, portanto, que em
ambos os casos o interesse é movido pelo novo. E, como se sabe, inovar é a
palavra de lei em todos os segmentos. Com a comunicação não é diferente: é
necessário criar atração através da inovação, de forma criativa e instigante.
Seja o receptor alguém com dificuldades patológicas de concentração ou um mero
representante de uma geração, a comunicação deve ter, antes de tudo, razão de
existir e mostrar que não é um único ponto de vista. Deve ser flexível, mutável
e agregadora de valores e conteúdo, atiçar no receptor a vontade de saber mais
e ir além. E, dessa forma, a comunicação quebra preconceitos, deixa de lado a
efemeridade da informação e trata ambos os públicos como peças essenciais para
a efetivação de seus processos.
Referências:
***
Artigo desenvolvido como conteúdo avaliatório da disciplina "Teorias da Comunicação nas Organizações", ministrado pelo professor Bernardo Rodrigues no curso MBA - Latu Sensu em Gestão da Comunicação Integrada. Faculdade Pitágoras, Divinópolis, 2010.
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