20 de mar. de 2012

Cais do porto

Para ler ouvindo Melanie C - Don't need this.

***


Lá estava eu, abandonado no cais do porto. Lencinho na mão, chorando copiosamente por mais um barco que se foi. O amor, capitão do barco, me prendeu ali de forma impiedosa.

Enquanto eu me despedia, meu coração gritava pedindo ao barco que voltasse. "Pobrezinho, mais um que espera no cais do porto", diziam os transeuntes. Mais um que se prendia a uma fagulha de esperança sumariamente apagada no mar da desilusão...

Então eu vi meu reflexo na água. Ele ria de forma desafiadora, sarcástica e pedante. "Quem você pensa que é para se deixar prender assim?", gritava. De repente olhou pra mim com cara séria. Estava nu. Assim como eu.

***

Lá estava eu, estático e perplexo. Mais uma vez eu ficava ali, acorrentado e refletido naquelas águas escuras. E mais um barco se afastava do cais.

Gaivotas voavam sobre mim enquanto os transeuntes murmuravam de forma desdenhosa. "Quem ele acha que é para ousar esperar tanto tempo assim?" diziam. Aquele olhar aparentemente piedoso, na verdade, era cinismo e escárnio.

Então eu prestei mais atenção e me vi sobre o cais, com cara de quem sempre espera algo que nunca soube o que é. Lencinho na mão, rosto molhado de tanto chorar. Estava nu. Assim como eu.

***

O ritual deveria ser o mesmo. Mas não foi.

O paramento era o mesmo, o espírito era o mesmo, mas o ritual não. EU não era o mesmo.

A dança, o transe, o elixir da vida e o autoflagelo. Cinco marretadas: o suficiente para quebrarem as correntes que me prendiam ao cais.

O barco se foi. Eu também. Nu - mas ninguém precisa saber disso.

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