
Quem espera sempre cansa
Teresa espera.
Espera uma vida descomplicada, desanuviada e estável. Com hora e lugar para ir e para voltar. Porto seguro, chaves, poltrona e chinelo ao lado.
Espera que a notem ali, sentadinha no banco da estação, enquanto espera um trem que nunca chega. "Será que o trem já passou?", pensa ela a cada cinco segundos. Talvez sim, talvez não. Mas ela, ainda assim, espera.
Espera que, ao ser notada, seja ajudada com as malas. Grandes, pesadas e escuras. Aquela pequena mala preta, com todos os seus pertences dentro, já não é mais suficiente para tantas aquisições e, mesmo sem ter como carregar tudo sozinha, precisou aumentar a bagagem.
Espera que alguém, assim como ela, deposite sua felicidade a seus pés. E, diferente do que todos os pés costumam fazer, os seus não pisarão na felicidade alheia.
Espera ligações, mensagens, sinais de fumaça, cartas de amor, sinais vermelhos e travesseiros que abraçam. Mas nada disso chega. Nem o trem.
***
Teresa dorme na estação.
Até quando?
Vez ou outra, Karenin, sua cachorrinha, lhe lambe a face e a faz lembrar que, em algum lugar bem longe dali, existe vida. Existe um sonho adormecido, uma mulher engajada e que, cansada de esperar, não espera mais ninguém.
Não há mais tempo para esperar que a vida lhe arrebate com coincidências, achados e destinos cruzados.
Mas Teresa espera.